sábado, 23 de setembro de 2017

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL – PARTE 8



Por: Ilo Jorge de Souza Pereira
Especialista em Gestão Pública e Política.

Tratamento de Resíduos Sólidos

O Tratamento de Resíduos Sólidos consiste no uso de tecnologias apropriadas com o objetivo maior de neutralizar as desvantagens da existência de resíduos ou até mesmo de transformá-los em um fator de geração de renda como a produção de matéria prima secundária. Dessa forma podemos denominar de tratamento de resíduos as várias tecnologias existentes desde a reciclagem até a disposição final de rejeitos.
De acordo com o Art. 9° da Lei 12.305/2010, o Tratamento de Resíduos Sólidos tem a quinta prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos a ser aplicada no Brasil. Veja:
A Lei n°. 12.305/2010, no seu Art. 9º. Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade:não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
§ 1o. Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental.
§ 2o. A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos Sólidos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão compatíveis com o disposto no caput e no § 1o.deste artigo e com as demais diretrizes estabelecidas nesta Lei. “
Antes de falarmos sobre tratamento de resíduos é necessário entender um pouco sobre o comportamento da matéria e nossa influencia sobre ele. Levando em conta os ensinamentos deixados pelo grande cientista Frances Antoine Lavoisier, considerado também por muitos como o pai da química, vamos entender que o termo lixo como algo que não se pode reaproveitar, não pode estar correto.
Na verdade o lixo é um amontoado de matéria prima que ao ser separado pode se transformar em fonte de recursos para a fabricação de outros materiais sendo chamado então de matéria prima secundária.
Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma! (Princípio de conservação da matéria de Antoine Lavoisier)
Na Europa, em especial na Alemanha, a transformação de resíduos em matéria prima secundária abastece o mercado local, onde os recursos naturais são limitados, e hoje representam uma importante fonte de renda, economizando recursos financeiros necessários na aquisição de matéria prima primaria de outros países e passando a comercializar produtos fabricados a partir de matéria prima secundária.
Isso é possível porque, a partir do momento que reaproveitamos certos materiais, deixamos de consumir energia para fabricá-los, ou seja, quanto mais produtos recicláveis utilizamos, menos energia elétrica precisamos consumir e assim, menos impactos ambientais teremos. Quando não enxergamos solução aparente para determinados tipos de resíduos, podemos observar a natureza. Um exemplo claro disso é o tratamento natural de resíduos sólidos orgânicos através da decomposição. A partir dessa observação, desenvolvemos técnicas de compostagem e biodigestão.
Podemos separar as formas de tratamento de resíduos em 3 grupos:

Tratamento Mecânico

No tratamento mecânico são realizados processos físicos geralmente no intuito de separar (usinas de triagem) ou alterar (reciclagem) o tamanho físico dos resíduos. Neste processo não ocorrem reações químicas entre os componentes como nos muitos casos do tratamento térmico.
Os maiores exemplos de tratamento mecânico de resíduos são encontrados no setor de reciclagem. Muitas vezes, o processo de reciclagem de produtos são divididas em várias etapas que agem de maneira interdependente. Em alguns casos como na reciclagem de resíduos eletrônicos, os processos mecânicos costumam ser complexos.
A reciclagem de resíduos sólidos da construção civil é uma forma mais simples de tratamento mecânico que exige o uso de equipamentos grandes com alto consumo de energia elétrica.
De uma forma geral, podemos classificar as formas de tratamento mecânico de resíduos de acordo com sua finalidade. Vejamos alguns exemplos abaixo:
  • Diminuição do tamanho das partículas: Quebra, trituração, moinhos;
  • Aumento do tamanho das partículas: aglomeração, briquetagem, peletagem;
  • Separação da fração física: Classificação;
  • Separação pelo tipo de substancia;
  • Mistura de substancias: extrusão, compactação;
  • Separação de fases físicas: sedimentação, decantação, filtração, centrifugação, floculação, e
  • Mudança de estados físicos: condensação, evaporação, sublimação.

Tratamento Bioquímico

O tratamento bioquímico ocorre através da ação de grupos de seres vivos, (em sua maioria micro-organismos como bactérias e fungos mas também organismos maiores como lesmas e minhocas), que ao se alimentarem dos resíduos, quebram suas moléculas grandes transformando-as em uma mistura de substancias e moléculas menores. Dependendo de alguns fatores como por exemplo a temperatura, pressão e acidez dessa mistura de substancias (moléculas), as substancias resultantes desse processo podem reagir entre si quimicamente, caracterizando assim o processo bioquímico.
Em alguns casos só ocorre o processo biológico, em outros somente o químico. Isso vai depender da tecnologia e metodologia utilizada.
Os processos de tratamento bioquímico mais conhecidos são:
Biodigestão: Decomposição da matéria orgânica na ausência de oxigênio nos chamados Biodigestores ou Centrais de Biogás.
Compostagem: Decomposição da matéria orgânica na presença de oxigênio em Usinas de Compostagem.
Alguns empreendimentos fazem uso das duas tecnologias em uma única central.

Tratamento Térmico

No tratamento térmico, os resíduos recebem uma grande quantidade de energia em forma de calor a uma temperatura mínima que varia de acordo com a tecnologia aplicada (Temperatura de reação) durante uma certa quantidade de tempo (Tempo de reação) tendo como resultado uma mudança nas suas características como por exemplo a redução de volume, devido a diversos processos físico-químicos que acontecem durante o processo.
Podemos diferenciar 5 principais processos de tratamento térmicos separados em função da temperatura de operação e o meio onde ocorre o processo. São eles:
  • Secagem: Retirada de umidade dos resíduos com uso de correntes de ar. Ocorre na presença do ar atmosférico e temperatura ambiente.
  • Pirólise: Decomposição da matéria orgânica a altas temperaturas e na ausência total ou quase total de oxigênio. As temperaturas do processo podem variar de 200 a 900°C.
  • Gaseificação: Transformação de matéria orgânica em uma mistura combustível de gases (gás de síntese). Na maioria dos processos não ocorre uma oxidação total da matéria orgânica em temperaturas variando entre 800 e 1600°C.
  • Incineração: Oxidação total da matéria orgânica com auxílio de outros combustíveis a temperaturas variando entre 850 e 1300°C
  • Plasma: Desintegração da matéria para a formação de gases

Qual a melhor tecnologia?

A resposta a essa pergunta não vem da área técnica e sim da legislação local vigente. No caso do Brasil, o Art. 9° da Lei 12.305/2010 define a ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos. Veja:
A Lei 12.305/2010, em seu Art. 9o define que: Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
§1o. Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental.
§2o. A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos Sólidos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão compatíveis com o disposto no caput e no §1o. deste artigo e com as demais diretrizes estabelecidas nesta Lei.“
Se considerarmos a reciclagem como forma de tratamento mecânico, este tem prioridade sobre o tratamento térmico.
No caso de resíduos orgânicos, temos dois principais tipos: os de cadeia molecular longa (madeiras) e curtas (dejetos, alimentos, algumas plantas, …). Com a tecnologia atual, podemos aplicar o tratamento mecânico (reciclagem) somente nos resíduos orgânicos de cadeia longa, logo a reciclagem destes resíduos tem prioridade sobre o tratamento térmico. Para os resíduos orgânicos de cadeia curta o mais indicado segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos é o tratamento bioquímico fazendo uso de biodigestores ou usinas de compostagem.
Na IV Conferencia Nacional do Meio Ambiente realizada em outubro de 2013 em Brasília, ficou estabelecido a prioridade de biodigestores sobre usinas de compostagem.
No geral, a decisão sobre que forma de tratamento será usada depende de vários fatores, entre eles cito:
  • O conhecimento dos envolvidos no processo de escolha sobre a legislação
  • O grau de informação da sociedade envolvida sobre o tema
  • A conscientização ambiental da sociedade envolvida
  • O alcance às tecnologias necessárias tem um menor impacto nos dias de hoje, porém ainda existe.
  • Interesses políticos
  • Interesses financeiros
  • Sensibilização dos gestores políticos com a questão social que envolve os catadores de lixo
  • Capacidade de gestão administrativa por parte dos políticos locais para tornar processos economicamente não viáveis em viáveis

Aspectos Sociais – Catadores e população de baixa renda

Sendo o lixo um aglomerado de matéria prima de diferentes tipos e origens a primeira coisa que devemos fazer é a separação dessa matéria prima de acordo com o seu tipo. Uma solução de curto prazo para a separação de resíduos é a qualificação de catadores de material reciclável ou reutilização para trabalharem em centrais de triagem. Depois dessa etapa há de se implantar gradativamente, com uso de educação ambiental em escolas e para a população, as técnicas de coleta seletiva, onde os resíduos são coletados de acordo com suas características físicas. No geral vale o princípio, diferentes tipos de resíduos exigem diferentes tipos de tratamento.

Disposição ambientalmente adequada

A Política Nacional de Resíduos Sólidos define a disposição final ambientalmente adequada como sendo:
A Lei 12.305/2010, em seu Art. 3°, Inciso VIII – disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; e
Se considerarmos que depois de depositados em aterros, os resíduos continuam reagindo entre si, podemos também entender a disposição final como uma forma de tratamento de resíduos.
Para receber a denominação de aterro sanitário é necessário que a disposição final cumpra todas as exigências dos órgãos responsáveis como por exemplo:
  • Isolamento subterrâneo ou inferior e de superfície
  • Tratamento dos gases e chorume resultantes principalmente da decomposição da matéria orgânica existente nos resíduos
O aterro sanitário constitui uma solução de implantação rápida indicada principalmente para resolver o problema de lixões muito antigos, onde a matéria orgânica já se decompôs e catadores já retiraram a maior parte dos materiais recicláveis ou reutilizáveis existentes.
Apesar de constar como uma alternativa muito difundida no Brasil, nos dias de hoje somente a falta de competência técnica de gestores políticos justifica a destinação de resíduos para aterros sanitários como solução futura.

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