domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mobilidade no trânsito: "o modelo que temos hoje está fadado ao fracasso", diz especialista.


A chave para a melhoria da mobilidade urbana está na combinação de soluções associadas à mudança cultural.

A rotina de grande parte da população de grandes centros, constituída por motoristas, passageiros e pedestres, inclui o desafio de enfrentar o trânsito diariamente. O problema é que a mobilidade urbana tem sido dificultada por conta de alguns fatores, entre os quais o grande volume de veículos, o desrespeito às leis de trânsito e a estrutura insuficiente em vias, calçadas e no transporte público.

A especialista em Gestão de Trânsito e Mobilidade Urbana pela PUC-PR, Maria Amélia Marques Franco, fala a Perkons sobre o tema e esclarece dúvidas importantes sobre mobilidade.

Perkons - Quais são as soluções, como meios de transporte alternativos e viabilização do fluxo de veículos, para melhorar a mobilidade no trânsito das cidades brasileiras?

Maria Amélia Franco - A solução está na combinação incentivo ao transporte público integrado - com melhorias na qualidade do serviço, infraestrutura e segurança para o crescimento de outras modalidades como a bicicleta e a caminhada e a restrição ao uso do transporte individual. Ou seja, o uso racional e democrático das vias pelos diversos modais: a pé, bicicleta, motocicleta, automóvel, trem, metrô, ônibus etc. Não conseguiremos avançar muito mais no modelo que temos hoje: incentivo do transporte individual, à velocidade e à falta de cidadania. Isso é, de fato, um conceito fadado ao fracasso. E os sinais já estão presentes no nosso dia a dia: são congestionamentos a qualquer hora, milhares de mortos e feridos por conta de acidentes, além da perda de tempo, que acarreta em doenças da pós-modernidade, como estresse, e o agravamento de outras condições.

PK - Que soluções tecnológicas deverão ser colocadas em prática para melhorar a mobilidade no trânsito até a Copa de 2014?

MAF - Há tecnologias que contribuem para a eficácia das medidas de restrição ao uso do automóvel e que favorecem o transporte público de passageiros, que atende a maioria da população. A adoção de faixa ou vias exclusivas para o transporte público, o rodízio de placas de veículos, de o pedágio urbano, estacionamento rotativo, inspeção técnica veicular, em associação a medidas de fiscalização, são alguns instrumentos disponíveis e exequíveis.  Para a melhoria da operação do tráfego, câmeras de monitoramento e painéis de mensagem com informações aos usuários são tecnologias que permitem agilizar o atendimento em caso de acidentes e orientar o fluxo do trânsito. Inclusive, essas medidas restritivas, que oneram o transporte individual, precisam ser revertidas no coletivo.

Entretanto, não bastam ações voltadas à limitação do transporte individual, mas medidas que tornem o uso dos demais meios de locomoção viáveis. Que metrô, BRT - Bus Rapid Transit e transporte sobre trilhos são essenciais não há dúvidas e já existem investimentos do PAC para este fim. Esses investimentos devem focar novos sistemas de transporte e melhoria dos já existentes, ou seja, garantir regularidade, rapidez, segurança, conforto, informação de linhas e horários, tarifas acessíveis.

Outras ações também são importantes. Um exemplo é a adequação das calçadas ao deslocamento seguro e confortável dos pedestres, livre de obstáculos, iluminado, com pavimento plano e antiderrapante, a adoção de sistemas semafóricos que priorizem o pedestre e dispositivos de controle da velocidade de veículos, que garantam segurança ao transeunte. Programas para a mobilidade e acessibilidade devem ser agentes de inclusão social e eliminar as barreiras que, em particular, os idosos e portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida enfrentam diariamente nas cidades brasileiras.

PK - Como as mídias sociais poderão ajudar ou já ajudam a facilitar a mobilidade?

MAF As mídias sociais favorecem a disseminação de informações do tráfego, como situações de congestionamentos, acidentes, mudanças no sentido de ruas e sugestões de rotas alternativas; promovem uma rede de contatos para o estímulo da carona solidaria e o compartilhamento do conhecimento de dicas de direção defensiva, cuidados com os veículos entre outros.

Por outro lado, o mau uso das mídias sociais agrava o problema da violência no trânsito. Avisar sobre blitz, por exemplo, é um ato contra a coletividade e atende ao interesse dos infratores. Essa atitude é um boicote a ação policial e mostra solidariedade com práticas criminosas como beber e dirigir. Você avisaria sobre operação da polícia contra os traficantes em uma favela no Rio de Janeiro?

PK - Em que lugares a implantação de tecnologias da mobilidade deram certo?

MAF- Vamos pensar a mobilidade como o deslocamento com segurança de motoristas e pedestres e não somente pela ótica da fluidez veicular. Várias capitais brasileiras têm bons exemplos e já lançam mão de dispositivos de fiscalização em paralelo com campanhas de educação no trânsito. Pelas informações que recebemos Belo Horizonte, São Paulo, Campo Grande já conseguiram promover a cultura de motoristas mais conscientes, embora ainda estejam longe do ideal. Além disso, o Rio de janeiro já integra informações com os diferentes órgãos que participam do trânsito (polícia, secretaria de obras, urbanismo e etc) por meio de câmeras e um sistema que alimenta os dados. 

A Central de Operações do Rio integra ao monitoramento todos os serviços de utilidade pública (bombeiros, luz, água, segurança pública e engenheiros de trânsito). Essa prática facilita o trabalho de operação nas vias, tempo de semáforo, orientações de desvios e, desse modo, melhora a mobilidade. O usuário, ainda, se beneficia recebendo informações por meio de redes sociais e painéis de mensagens.

* Maria Amélia Marques Franco é especialista em Gestão de Trânsito e Mobilidade Urbana pela PUC-PR e Gerente de MKT & Comunicação Corporativa da Perkons S.A, empresa especializada em segurança e gestão de tráfego.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Diminui número de acidentes nas estradas



 Nas rodovias estaduais e federais houve queda durante a folia.

O feriadão ocorrido durante os dias oficiais do período de Momo deixou um saldo bem menor este ano de acidentes e pessoas feridas nas estradas estaduais e nas federais que cortam o Estado. O balanço da Operação de Carnaval 2013 do Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual (BPRv) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi divulgada ontem. 

Do último sábado até a última terça-feira, o BPRv registrou 50 acidentes, sendo a maioria causado por colisões. Destas ocorrências, 19 deixaram vítimas, sendo três fatais e que não aconteceram na Região Metropolitana do Recife (RMR), mas nas Matas Sul e Norte de Pernambuco. Nas rodovias estaduais, por exemplo, houve uma queda de 33 acidentes, 21 vítimas e uma morte em relação ao ano passado. Em comparação a três anos atrás esse foi o menor quantitativo de acidentes.

As equipes do Batalhão abordaram 3.491 pessoas, fiscalizaram 1.481 veículos, removeram 23 veículos, recolheram 24 Carteiras Nacional de Habilitação (CNHs) e autuaram 696 indivíduos. Estes dados tiveram uma queda significativa comparado ao ano passado. Em 2012 foram 8.694 pessoas abordadas e 3.664 carros fiscalizados.

Já a PRF contabilizou da última sexta-feira até a última terça-feira 96 acidentes, envolvendo 181 veículos, 67 feridos e quatro mortes. Policiais rodoviários federais de Pernambuco, também atenderam a um acidente na BR-116, na Bahia, por estarem mais próximos, e que acabou sendo registrado na regional pernambucana. Em um comparativo ao ano passado todos esses itens sofreram diminuição, isto é, foram 129 acidentes com 97 carros envolvidos, deixando 97 feridos e três mortos. 

Dos 96 acidentes que ocorreram nas BRs que passam pelo Estado, cerca de 57%, ou seja, 55 aconteceram na BR-101, via de acesso ao litoral, e 16%, correspondendo a 16 na BR-232, estrada que liga a Capital ao Interior.  Os tipos mais comuns foram de colisão traseira (37), lateral (19) e transversal (14). A polícia rodoviária realizou 2.443 testes de alcoolemia onde 51 motoristas foram autuados e 16 presos. As fiscalizações de trânsito recolheram 67 Carteiras Nacional de Habilitação (CNHs), com 1.683 autos de infração

Prefeitos têm desafio de universalizar a pré-escola até 2016


Dados do IBGE apontam que, em 2010, havia 1.154.572 crianças na faixa de 4 a 5 anos fora da escola.(abadiafonsecasilva.blogspot.com)

Brasília – Os prefeitos que assumiram o cargo no início deste ano terão um desafio a cumprir até o fim do mandato, em 2016: universalizar a pré-escola. A matrícula de todas as crianças na faixa etária de 4 a 5 anos tornou-se obrigatória em 2009. O prazo final foi fixado para 2016 e a responsabilidade recai sobre os municípios aos quais cabe a educação infantil.

O desafio dos prefeitos será garantir vagas para as crianças na rede pública. Alguns municípios, entretanto, não têm unidades suficientes e precisarão construir novos prédios. Além disso, virão mais gastos com os profissionais contratados e a manutenção das novas instalações. 

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2010, havia 1.154.572 crianças na faixa de 4 a 5 anos fora da escola. A matrícula na pré-escola, no entanto,  avançou na última década. Em 2000, 51,4% das crianças nessa faixa etária tinham acesso à educação, patamar que saltou para 80,1% em 2010.

Há pouco mais de um mês exercendo o mandato de prefeito de Araguapaz, município goiano com 8,5 mil habitantes, Fausto Luciano antecipa que será difícil cumprir a meta sem mais recursos do governo federal. “Hoje é quase impossível. Os recursos do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] são escassos. Com os recursos de que dispomos hoje, será preciso existir algo mais até 2016 para que isso seja implementado. É um desafio para os gestores que estão entrando agora”, disse Luciano.

As prefeituras recebem apoio federal por meio do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (ProInfância). O objetivo é financiar a construção de unidades de educação infantil para atender a crianças de até 5 anos, faixa etária da creche à pré-escola.

Pelo programa, a prefeitura providencia o terreno e o Ministério da Educação (MEC) financia a construção, os equipamentos e o mobiliário. A meta do atual governo é construir 6 mil novas creches e pré-escolas até 2016. Dados do MEC indicam que 742 unidades de educação infantil foram entregues nos dois primeiros anos de gestão da presidenta Dilma Rousseff e cerca de 5,6 mil estão em construção.

Mesmo assim, alguns gestores se preocupam com o custo da manutenção. É o caso do prefeito de Cachoeira Grande, no Maranhão, Francivaldo Souza. “Estamos construindo uma creche, mas, para fazer funcionar, temos que ter a ajuda do governo federal. Não falo só nos equipamentos, mas também da manutenção”, disse ele.

A secretária municipal de Educação de Colinas, no Tocantins, Odaléa Sarmento, considera a meta ambiciosa e acredita que uma alternativa seria apoiar a ampliação dos prédios municipais. “Os municípios têm prédios com infraestrutura de escola de ensino fundamental. Temos que adaptar esses ambientes para a educação infantil, para essa faixa etária”. Ela também defende que o governo do estado assuma a responsabilidade pela etapa final do ensino fundamental, para que os municípios concentrem esforços na educação infantil.

Embora a questão financeira seja a mais citada entre as dificuldades a serem superadas, a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, aponta que a gestão nos municípios terá importância fundamental para viabilizar a infraestrutura e contratação de profissionais para a universalização da pré-escola até 2016. “Se a gestão e a implementação não forem muito rigorosas e competentes, no espaço de quatro anos, não se dá conta de colocar em pé toda a estrutura necessária para garantir vagas para essas crianças todas.”

A inclusão do pré-escolar ocorreu por emenda à Constituição. Antes da mudança, o ensino fundamental era a única fase escolar obrigatória no Brasil. Desde então, o ensino passou a ser obrigatório dos 4 aos 17 anos, abrangendo a pré-escola, o ensino fundamental e o médio.