Por:
Ilo Jorge de Souza Pereira
Especialista
em Gestão Pública e Política.
Modelo Tecnológico para manejo de resíduos sólidos
Sendo a Política
Nacional de Resíduos Sólidos bastante incisiva na definição das
responsabilidades dos diversos agentes, uma melhoria significativa
precisa ser buscada para a solução dos desafios colocados. Um salto
tecnológico precisa ser dado.
O Ministério do
Meio Ambiente incentiva a implantação de um Modelo Tecnológico que
privilegia o manejo diferenciado e a gestão integrada dos resíduos
sólidos, com inclusão social e formalização do papel dos
catadores de materiais recicláveis, com compartilhamento de
responsabilidade com os diversos agentes.
Este modelo
pressupõe um planejamento preciso do território, com a definição
do uso compartilhado das redes de instalações para o manejo de
diversos resíduos, e com a definição de uma logística de
transporte adequada, para que baixos custos sejam obtidos.
O modelo tecnológico
para manejo de resíduos sólidos privilegia a minimização da
geração e o manejo diferenciado dos resíduos sólidos, com a
triagem e a recuperação dos resíduos que constituem bem econômico
e valor social, e a disposição final exclusivamente dos rejeitos,
de forma ambientalmente adequada.
Estimula o
compromisso e fidelização dos munícipes com a separação dos
resíduos na fonte geradora, por meio de programas de Educação
Ambiental, Mobilização e Comunicação Social. É fundamental haver
integração das ações com a área de Saúde, Educação, Meio
Ambiente, e Desenvolvimento Econômico, entre outras.
O modelo para o
manejo dos resíduos sólidos considera a necessidade de inclusão
social e formalização do papel dos catadores de materiais
recicláveis que devem trabalhar de forma legal e segura, com o uso
de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de
saúde pública. E o poder público está dispensado de licitação
para a contratação de serviços prestados por catadores organizados
em associações ou cooperativas (Art. 57, Lei 11.445/2007).
Com este modelo
tecnológico e de gestão, os consórcios que congreguem diversos
municípios, com equipes técnicas permanentes e capacitadas serão
os gestores de um conjunto de instalações – pontos de entrega de
resíduos, unidades de triagem, aterros sanitários, unidades para
processamento e outras – que permitam o manejo diferenciado dos
diversos tipos de resíduos sólidos gerados no espaço urbano e o
compartilhamento de diferentes equipamentos, potencializando os
investimentos.
Instalações para o manejo diferenciado e integrado, regulado, normatizado
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PEVs – Pontos de Entrega Voluntária (Ecopontos) para acumulação temporária de resíduos da construção e demolição, de resíduos volumosos, da coleta seletiva e resíduos com logística reversa (NBR 15.112)
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LEVs – Locais de Entrega Voluntária de Resíduos Recicláveis – conteineres, sacos ou outros dispositivos instalados em espaços públicos ou privados monitorados, para recebimento de recicláveis
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Galpões de triagem de recicláveis secos, com normas operacionais definidas em regulamento
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Unidades de compostagem/biodigestão de orgânicos
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ATTs – Áreas de Triagem e Transbordo de resíduos da construção e demolição, resíduos volumosos e resíduos com logística reversa (NBR 15.112)
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Áreas de Reciclagem de resíduos da construção (NBR 15.114)
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Aterros Sanitários (NBR 13.896)
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ASPP – Aterros Sanitários de Pequeno Porte com licenciamento simplificado pela Resolução CONAMA 404 e projeto orientado pela nova norma (NBR 15.849)
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Aterros de
Resíduos da Construção Classe A (NBR 15.113)
O Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos precisa ser traduzido em um conjunto
de instalações que contemple a totalidade do território urbano.
Estas instalações são, na prática, a oferta de endereços físicos
para a atração e concentração de diversas tipologias de resíduos,
sem os quais o processo indisciplinado de descarte aleatório de
resíduos se impõe.
Os PEVs (Ecopontos)
são os pontos iniciais das redes que precisam ser definidas –
alocados nos bairros, a partir de vários critérios, permitem
transformar resíduos difusos em resíduos concentrados, propiciando
a partir disso uma logística de transporte adequada, com
equipamentos adequados e custos suportáveis.
Os PEVs precisam ter
seu uso compartilhado entre os vários resíduos que precisam ser
concentrados – atrairão dos resíduos da construção aos resíduos
volumosos, os domiciliares secos e os resíduos com logística
reversa.
PEV – Ponto de Entrega Voluntária Instalação que possibilita a integração da gestão e do manejo de diversos resíduos
O Modelo Tecnológico
incentivado pelo MMA propõe a adequação da rede de instalações
ao porte dos municípios, definindo o número de PEVs e ATTs –
Áreas de Triagem e Transbordo (também atuando com resíduos
diversificados) em função da população e, em municípios menores,
agregando as duas funções em uma única instalação (PEV Central).
ATTs – Áreas de Triagem e Transbordo de resíduos da construção e demolição, resíduos volumosos e resíduos com logística reversa (NBR 15.112)
O planejamento para
a definição da rede de instalações é essencial. O PGIRS deve
propor uma setorização dos espaços urbanos, formando bacias de
captação de resíduos para cada PEV, a partir dos grandes indutores
ou dificultadores de tráfego . Estas bacias devem coincidir, tanto
quanto possível, com os setores censitários do IBGE, de forma que
todo o conjunto de informações do Censo esteja disponibilizado para
o planejamento.
Os setores devem,
também, aproximar-se dos limites das regiões de saúde organizadas
para a atuação dos agentes atuando em Programa de Saúde da Família
e Programa de Agentes Comunitários de Saúde. São atualmente
nítidos os ganhos em saúde decorrentes das melhorias em saneamento.
Os agentes de saúde, muito numerosos nos municípios brasileiros,
têm presença capilar nas regiões onde atuam e desenvolvem uma
compreensão muito clara do território onde trabalham. O Comitê
Diretor e o Grupo de Sustentação devem abrir um diálogo profundo
com a coordenação destes programas.
A estratégia de
coleta seletiva de resíduos domiciliares secos, reconhecidamente
mais eficiente se realizada porta a porta, precisa atuar sob os
mesmos princípios de logística, com atuação dos catadores, ou de
funcionários na ausência destes, manejando pequenos veículos que
possibilitem a concentração das cargas para a entrada em cena dos
veículos de maior porte. Municípios como Londrina/PR, que
apresentam os melhores resultados para este tipo de coleta seletiva,
estruturaram suas intervenções a partir desta lógica, conseguindo
custos de coleta assemelhados aos da coleta convencional. O
planejamento das ações deverá considerar estas questões.
A estratégia a ser
impressa no PGIRS contemplará a recuperação e valorização máxima
dos diversos materiais, como orienta a Política Nacional de Resíduos
Sólidos – os resíduos secos recicláveis, os de logística
reversa, os resíduos trituráveis da construção civil, os resíduos
úmidos transformados em compostos orgânicos. Mas a estratégia
deverá também considerar que a disposição dos resíduos ricos em
matéria orgânica nos aterros operados com maior escala, gerará
volumes expressivos de gases maléficos à atmosfera.
Em função
disso, sempre que possível deverá ser prevista solução para
captura integral destes gases e seu aproveitamento, por meio da
biodigestão, de forma a atender as prescrições do Plano Nacional
sobre Mudança do Clima.
Na definição das
estratégias, há a considerar, ainda, a possibilidade de, enquanto
Consórcio Público, atuar complementarmente, prestando serviços
além dos serviços públicos. Esta é uma forma de constituir
“receita própria”, legalmente permitida se não são
comprometidos os objetivos primordiais do consórcio.
Podem ser
considerados como possibilidade de serviços a serem remunerados por
preços públicos – o manejo do RCC e sua reciclagem, a reciclagem
de madeira por trituração, o tratamento do RSS, a geração de
energia, vapor e gás a partir do tratamento de RSD úmido.
Sustentabilidade do Modelo
Uma rede de locais
(Ecopontos) para a entrega voluntária de resíduos volumosos, de
podas, de pequenas quantidades de entulhos, de fácil acesso aos
usuários dos serviços, poderá servir de ponto de apoio ao programa
de coleta seletiva, operado por catadores ou funcionários,
barateando a captação dos resíduos gerados e sua concentração
para transporte até as unidades de processamento.
Para a efetividade
desta rede de instalações é necessário o prévio planejamento
físico com a setorização da área de intervenção, o
dimensionamento dos resíduos gerados, a definição de fluxos e
destinos, e a fixação de metas e compromissos compartilhados entre
diversos órgãos e agentes da sociedade local, que permitam o avanço
consistente dos resultados a cada período de planejamento.
A garantia da
sustentabilidade econômica e financeira dos serviços prestados é
primordial, devendo haver a cobrança justa aos cidadãos pelos
serviços de manejo dos resíduos prestados, por meio de taxas,
tarifas e preços públicos, conforme preconizam a Lei Federal de
Saneamento Básico e a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
considerando a capacidade de pagamento dos usuários.
Somente assim haverá
a universalização dos serviços prestados e a necessária melhoria
das condições ambientais e de saúde pública almejadas.
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