segunda-feira, 18 de setembro de 2017

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL – PARTE 6


Por: Ilo Jorge de Souza Pereira
Especialista em Gestão Pública e Política.
CONSTRUINDO UM ATERRO SANITÁRIO
O Aterro Sanitário é a forma de disposição final mais conhecida mundialmente. Deve ser projetado para receber e tratar o lixo produzido pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de engenharia, para reduzir ao máximo os impactos causados ao meio ambiente e evitando danos a saúde pública.
A disposição de resíduos sólidos orgânicos em aterros sanitários exige cuidados adicionais na concepção do projeto, assim como na manutenção e operação de um aterro sanitário.
No processo de decomposição dos resíduos sólidos, ocorre a liberação de gases e líquidos (chorume ou percolado) muito poluentes, o que leva um projeto de aterro sanitário a exigir cuidados como impermeabilização do solo, implantação de sistemas de drenagem eficazes, entre outros, evitando uma possível contaminação da água, do solo e do ar.
Para ser qualificado como Disposição final ambientalmente adequada, o aterro sanitário precisa se encaixar perfeitamente no conceito da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS que defini como disposição final ambientalmente adequada como sendo a “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.”
Corte da seção de um aterro sanitário
Portanto para ser chamado de aterro sanitário são necessários no mínimo as seguintes características a central:
Unidades Operacionais:
  • Possibilidade de alojamento em células especiais para vários tipos de resíduos;
    • Células para rejeitos oriundos do lixo domiciliar;
    • Células de lixo hospitalar (caso o Município não disponha de processo mais efetivo para dar destino final a esse tipo de lixo);
  • Isolamento inferior não permitindo que o chorume atinja os lençóis freáticos;
  • Sistema de coleta e tratamento dos líquidos percolados (chorume), resultante da decomposição da matéria orgânica;
  • Sistema de coleta e tratamento dos gases do aterro;
  • Isolamento superior evitando contaminação do ar e atração de animais que se alimentem dos resíduos orgânicos
  • O isolamento superficial (superior) deve ser feito diariamente
  • Sistema de drenagem pluvial para evitar que a água da chuva penetre no aterro e dessa forma gere ainda mais chorume
  • Pátio de estocagem de materiais;

Modelo de um Aterro Sanitário
Unidades de apoio:
  • Cerca e barreira vegetal;
  • Estradas de acesso e de serviço;
  • Balança rodoviária e sistema de controle de resíduos;
  • Guarita de entrada e prédio administrativo;
  • Oficina e borracharia.
Os aterros sanitários podem ser divididos basicamente em dois tipos:
  • Aterro Sanitário Convencional – Os resíduos são depositados acima no nível do solo para posteriormente serem compactados.

  • Aterro Sanitário em valas – Os resíduos são depositados em valas para facilitar a formação de células e camadas assim sua manutenção. Depois de preencher uma célula ou trincheira o aterro deve voltar a ter a mesma topografia inicial.

Aterro Sanitário Convencional
Aterro Sanitário em valas
 
Capacidade de armazenamento e Vida Útil do Aterro
A Capacidade de armazenamento e Vida Útil do Aterro são palavras comumente usadas por quem tem alguma ligação com a área. Entenda os conceitos:
  • Capacidade de armazenamento – Volume total em m³ reservados para acondicionar os resíduos sólidos

  • Vida Útil – Tempo estimado que o aterro estará em funcionamento até que sua capacidade de armazenamento total seja alcançada.

Para se calcular então a capacidade de armazenamento e a vida útil de um aterro, é necessário conhecer a quantidade de resíduos que serão destinadas ao aterro diariamente. Se o aterro estiver sido construído para receber 100% dos resíduos sólidos da(s) cidade(s), a quantidade de resíduos é a mesma diagnosticada pelo Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da(s) cidade(s).

De uma maneira simples e não oficial, você mesmo pode calcular a capacidade de armazenamento de um aterro assim como sua vida útil. Veja como:
Capacidade de Armazenamento (m³) = Quantidade diária de resíduos destinada ao aterro (m³/d) * Vida Útil (em dias)

Normalmente um aterro sanitário é construído para poder receber 100% dos resíduos de uma sociedade composta de um ou mais municípios para um prazo (vida útil) de pelo menos 20 anos.

Depois disso e esgotado sua vida útil, o mesmo deve então ser fechado e o gestor público deve buscar outro local para a disposição final do lixo da cidade. A técnica de compactação dos resíduos visa aumentar a vida útil do aterro sanitário.

Não deixe de ver também esse vídeo sobre um aterro sanitário em Barueri-SP construído obedecendo todas as normas sanitárias e servindo de modelo para aterros no Brasil.

Seleção de áreas para a implantação de aterros sanitários
Um dos requisitos para o cumprimento da Lei nº 12.305/2010 é a escolha de áreas favoráveis para a destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos. Essa escolha deve obedecer a uma série de critérios para ser aprovada.

A escolha de um local para a implantação de um aterro sanitário não é tarefa simples. O alto grau de urbanização das cidades, associado a uma ocupação intensiva do solo, restringe a disponibilidade de áreas próximas aos locais de geração de lixo e com as dimensões requeridas para se implantar um aterro sanitário que atenda às necessidades dos municípios.

Considerações atuais sobre aterros sanitários
Até os anos 80, o aterro consistia na principal solução para a disposição final de resíduos sólidos no mundo. Com a mudança de percepção ambiental e o entendimento que dispor resíduos é aterro é não aproveitar os recursos naturais se caracterizando como uma sociedade puramente extrativista, os aterros sanitários começaram a receber cada vez menos resíduos como consequência do aumento do uso de técnicas de reciclagem e tratamento de resíduos.
Hoje em dia, o maior objetivo dos ambientalistas é ter produtos que sejam 100% recicláveis ou de alguma forma possam receber tratamentos e voltarem à cadeia produtiva. Dessa forma, os aterros se tornam desnecessários para as sociedades modernas.
Países como a Alemanha conseguem aumentar cada vez mais a vida útil de seus aterros porque investem massivamente em técnicas de reaproveitamento de resíduos como a reciclagem e o tratamento dos resíduos orgânicos. Essas técnicas encontram-se tão avançadas que o país proibiu a construção de novos aterros sanitários.


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