“A regra
é muito simples: se der sono, encosto o veículo e durmo”: quem ensina é o
experiente caminhoneiro Juarez Domingues Rosa, 43 anos, 23 deles rodados com
segurança pelas rodovias do Brasil. O que ele diz parece básico, mas muitos
motoristas ainda desconsideram essa regra. O cantor Pedro, filho do artista
sertanejo Leonardo, sofreu um sério acidente automobilístico na madrugada do
último dia 20 provavelmente causado por cansaço ao volante.
Com a
experiência de quem já chegou a viajar por três dias seguidos para entregar uma
carga que foi de Santa Catarina até o Espírito Santo, Juarez diz que,
assim que o corpo começa a sentir o cansaço, é hora de parar para
recarregar as forças.
E a regra
não vale apenas para quem estiver dirigindo nas rodovias. Acidentes como o do
cantor Pedro podem envolver desde uma viagem familiar neste feriado
prolongado até a saída de uma festa pelas ruas da cidade na madrugada.
A Abramet
(Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) informa que até 60% dos
acidentes de trânsito ocorrem por fadiga ou sono ao volante. O perigo da
sonolência na direção fica claro em exemplos de nosso cotidiano. Alguém que
está acordado há 19 horas (situação normal quando ficamos até de madrugada em
festas) pode levar mais de um segundo para reagir aos estímulos.
Se o
veículo estiver a 50 km por hora, irá percorrer quase 14 metros antes do
motorista pensar em colocar o pé no freio.
Prudência
O professor Silvio Fernandes Junior, que publicou estudos sobre o tema em dois livros, explica que quem fica muitas horas sem dormir reduz os atos reflexivos.
“O ideal
é termos uma noite de sono de no mínimo 7h30 e não ultrapassarmos o período de
19 horas acordado”, orienta o professor, que é bauruense e membro da Cemsa
(Centro Multidisciplinar em Sonolência e Acidentes).
Mas ele
ressalta que cada organismo reage de uma forma diferente, e diversos fatores
interferem na intensidade do sonolência ao volante. Um deles é a qualidade do
sono.
Quem
inverte os períodos de descanso – dormindo durante o dia e trabalhando na
madrugada – está mais propenso a acidentes. “Isso inverte o ciclo natural de
nosso relógio biológico e a qualidade do sono pode ser até 30% inferior ao do
período normal”, explica Silvio.
Independentemente
dos casos e fatores envolvidos, a orientação é a mesma que o caminhoneiro
Juarez deu no início da reportagem: assim que sentir cansaço, o motorista deve
agir.
Medidas
paleativas como abrir a janela do carro e ligar o som do veículo podem ajudar a
manter a pessoa em estado de alerta. Quando o motorista está há mais de duas
horas no volante, a Abramet recomenda encostar o carro e praticar de dez a 15
minutos de exercícios.
Mas se o
sono bate pesado, não tem jeito: é hora de trocar o volante pelo travesseiro,
em prol da sua saúde e da dos outros motoristas. Bom descanso!
Filho de
Leonardo continua no hospital
O cantor
de música sertaneja Pedro, filho do consagrado cantor Leonardo, continua
internado na UTI do hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Ele sofreu um
acidente de carro na madrugada do dia 20 na divisa dos estados de Minas Gerais
e Goiás. Pedro estava dirigindo após a apresentação de um show e a polícia
suspeita que ele tenha dormido ao volante. Na tarde deste sábado (28), Pedro
havia apresentado uma sensível melhora, mas continuava em coma.
60%
Dos
acidentes de trânsito tem fadiga ou sono como uma das causas, diz estudo.
Caminhoneiros
usam drogas para não dormir
Muitos
motoristas, principalmente aqueles que transportam cargas por diversas horas
seguidas, tomam remédios para inibir o sono. Popularmente chamados de
“rebites”, eles ajudam os condutores a ficarem até dias sem dormir. Entretanto,
os rebites fazem mal à saúde e prejudicam o reflexo dos condutores, facilitando
a ocorrência de sérios acidentes.
Polícia
Militar tem projeto ‘Acorda Motorista’
Os motoristas
que passarem por uma base da Polícia Militar Rodoviária e receberem sinal para
estacionar no acostamento não precisam entrar em pânico: a ação pode ser apenas
um convite para tomar um cafezinho ali mesmo, com os policiais. A atitude faz
parte do projeto “Acorda Motorista”, ação dos policiais para evitarem acidentes
causados pela sonolência.
Quando
percebem que os condutores estão cansados, eles orientam a interrupção da
viagem para uma pausa para um café quente e um pouco de exercício para afastar
o sono. Alongar os membros e mexer o corpo ajudam a espantar a sonolência.
“Alguns motoristas já são praticamente fregueses de nossa base”, brinca o 1º
Tenente Valter Luis Dacêncio, da Polícia Militar Rodoviária de Bauru.
Ele
garante não haver nenhuma punição ou represália para os condutores que
assumirem estar com sono. “Nossa ação é mais de orientação e ajuda do que de
repressão”, afirma Valter.
O tenente
também orienta a população a procurar a polícia se perceberem algum motorista
dirigindo com sono.
O principal
sinal da sonolência ao volante é quando o veículo começa a “comer” faixas da
pista, resultado da falta de atenção. Mas a população deve evitar tomar
atitudes para acordar o colega de rodovia, como buzinar. Muito menos emparelhar
os veículos, pois pode se envolver em um acidente.
Além
disso, nem sempre os sinais significam sonolência. “O motorista pode estar
sendo vítima de assalto, por exemplo. O melhor é chamar sempre a polícia”, diz
o tenente.
Difícil
de detectar
Ao
contrário da embriaguez, não existe exame para detectar sono ao volante. O
sintoma mais comum é o motorista “comer faixas” da pista. Nos acidentes em que
o condutor dormiu, geralmente não há marcas de freio na pista.
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