A equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, quer criar
um imposto sobre movimentações financeiras para acabar com a contribuição
ao INSS que as empresas recolhem sobre os salários dos funcionários. O
tributo incidiria sobre todas as operações, como saques e transações
bancárias, e a estimativa é que seria possível arrecadar, ao menos, R$
275 bilhões por ano.
O modelo é semelhante ao da extinta CPMF, mas o
time refuta a comparação, afirmando que se trata de uma substituição, e
não da criação de um novo imposto. A informação foi confirmada pelo
economista Marcos Cintra, responsável pela área tributária no grupo
coordenado por Paulo Guedes, indicado para ministro da Economia. A ideia
de tributar movimentações financeiras foi revelada pelo jornal “Folha
de S. Paulo” ainda no primeiro turno e causou uma crise na campanha de
Bolsonaro, devido à impopularidade do “imposto do cheque”. Na ocasião, o
então candidato negou a criação de impostos. Depois do episódio, Guedes
cancelou encontros, e a campanha não tocou mais no assunto. É a
primeira vez desde as eleições que um integrante da equipe confirma que a
ideia está na mesa e detalha suas condições.
IMPACTO PARA INFORMAIS
Na primeira versão do plano, apresentada em setembro, a
ideia era criar um imposto único sobre movimentações financeiras, que
substituiria vários tributos federais, como IPI, PIS e Cofins. Agora, a
estratégia é implantar a ideia aos poucos, substituindo, num primeiro
momento, apenas a contribuição previdenciária patronal.
Segundo Cintra, a alíquota do novo tributo seria de 0,4%
a 0,45%, em cada operação. Ou seja, numa transferência bancária, as
duas partes seriam descontadas. Por exemplo, ao transferir dinheiro para
outra pessoa, há um desconto de 0,4% a 0,45%. Quando o dinheiro entra
na conta do favorecido, há um novo desconto na mesma alíquota. Na
prática, a alíquota total da transação, portanto, ficaria entre 0,8% e
0,9%. Em contrapartida, as empresas deixariam de recolher os 20% sobre
afolha de pagamento.
Nos cálculos do economista, esse sistema faria
frente à arrecadação da contribuição sobre folha, que ficou em cerca de
R$ 275 bilhões, segundo o mais recente Balanço Geral da União, de 2017. O
objetivo do economista, que defende esse modelo há 30 anos, é que a
mudança gere mais empregos. Cintra afirma que a tributação sobre folha
de pagamento impede a formalização no país — hoje, pouco mais de 30% dos
empregados têm carteira assinada.
“A tributação sobre a folha é uma das
mais injustas e regressivas (ao aumentar a desigualdade) que se pode
imaginar. Estou propondo a total desoneração da folha. No momento em que
se propõe isso, estimula-se o emprego. O principal motivo da reforma
tributária é causar um choque de emprego”, afirma Cintra. O novo tributo
substituiria apenas a contribuição patronal. O desconto no contracheque
do empregado seria mantido. Hoje, trabalhadores recolhem 8%, 9% ou 11%,
de acordo com a faixa salarial.
Para compensar a perda dos trabalhadores com o novo imposto seria criado um sistema de reembolso.
Para compensar a perda dos trabalhadores com o novo imposto seria criado um sistema de reembolso.
Assim, as empresas
pagariam, junto com o salário, um adicional calculado sobre a renda
bruto, a partir da alíquota do novo imposto. Por exemplo, um empregado
que recebe R$ 3 mil teria um pagamento adicional de R$ 27, equivalente a
0,9% do salário, considerando que seja essa a alíquota definida.
Trabalhadores informais não teriam essa compensação, já que não
contribuem para a Previdência. Esses trabalhadores, no entanto,
continuariam a recolher o imposto, caso façam uma movimentação
financeira.
“Quem está na informalidade não teria essa proteção legal.
Mas a ideia é que mais pessoas estejam no mercado formal”, afirma. Segundo Cintra, além de incentivar a contratação formal, a
ideia do grupo também é garantir uma fonte mais segura de arrecadação
para o atual sistema de Previdência. Ele explica que a medida não
resolve o problema do déficit no sistema de aposentadorias, mas permite
que ele seja financiado por uma fonte menos instável, que não é afetada,
por exemplo, pela queda do número de trabalhadores formais.
Fonte: O Globo |
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