"Antes de Jair Bolsonaro, o PT também havia tentado intimidar a
imprensa com a ameaça de corte de verbas publicitárias federais".
Na
última segunda (29), em entrevista ao Jornal Nacional (Globo), Bolsonaro
atacou a Folha: “Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de
mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos
do governo federal”. Embora de forma menos explícita — e não verbalizada
pela autoridade máxima do governo, o PT já empregou táticas similares
contra veículos com reportagens críticas a seus governos e em benefício
de outros mais alinhados ao partido.
Noticiou-se, em março de 2015, que o então presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu o corte de publicidade nos veículos de comunicação que, na visão dele, “apoiaram” e “convocaram” manifestações contra a presidente Dilma Rousseff. Falcão, em reunião com bancada petista, afirmou que a “quebra” do monopólio deve ser feita por meio de “uma nova política de anúncios para os veículos da grande mídia”.
No dia 15 daquele mês, protestos contra o governo da
presidente Dilma Rousseff e o PT reuniram quase 1 milhão de pessoas em
todo o país. Um ano antes, teve grande repercussão um artigo em que
Alberto Cantalice, vice-presidente do PT na época, chamava jornalistas e
artistas críticos ao partido de “pitbulls da grande mídia”.
“Personificados em Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli,
Guilherme Fiuza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili, Marcelo
Madureira entre outros menos votados, suas pregações nas páginas dos
veículos conservadores estimulam setores reacionários e exclusivistas da
sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior
nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes”, escreveu no site do
partido. Cantalice atribuiu a eles a criação de um clima de ódio que
teria se materializado nos xingamentos a Dilma na abertura da Copa do
Mundo daquele ano, em São Paulo.
“Diuturnamente lançam vitupérios,
achincalhes e deboches contra os avanços do país visando desgastar o
governo federal e a imagem do Brasil no exterior. Inimigos que são das
políticas sociais, políticas essas que visam efetivamente uma maior
integração entre todos os brasileiros, pregam seu fim.” O artigo foi
criticado por associações de jornalistas brasileiras e e estrangeiras,
como a Repórteres sem Fronteiras.
Também em 2014, o então deputado federal Jorge
Bittar (PT-RJ) apresentou um projeto de lei que tratava da distribuição
de verbas públicas para publicidade e divulgação de campanhas e ações.
Pela proposta, pelo menos 30% da verba oficial deveria ser destinada a
“mídias alternativas, micro e pequenas empresas”. Em audiência pública
na Câmara, ele criticou veículos profissionais de comunicação. “Pelo
que a Rede Globo, a Folha ou o Estadão noticiam, o Brasil estaria à
beira de um colapso. As manchetes são de caos total, com inflação
galopante, desequilíbrio fiscal e desemprego. No entanto, no Brasil
real, a realidade é muito diferente. O povo precisa e merece ter acesso a
essas informações.” Nos governos petistas, a Secom (Secretaria Especial
de Comunicação Social), órgão responsável pelos gastos com mídia,
promoveu expressiva pulverização da publicidade oficial.
Segundo o site PT na Câmara, em 2003 menos de 500
veículos recebiam verbas de publicidade do governo federal. Em 2014 o
número saltou para mais de 9.000, entre jornais, emissoras de TV e
rádio, blogs e sites de notícias. Grupos do partido desejavam que a
Secom contemplasse mais os veículos alinhados à administração petista.
“Já estamos há mais de dez anos com governos populares no país, mas em
praticamente nada se alterou a concentração das verbas publicitárias do
governo para os grandes meios de comunicação, em detrimento de formas
alternativas de informação”, disse o deputado federal Paulo Pimenta
(PT-RS) em 2013.
Na mesma época, André Vargas (PT-PR) queixou-se que a
comunicação do governo era uma “porcaria”. “Não tem estratégia nas
redes sociais. Lula mantinha uma canalização de recursos para alguns
blogs, mas Dilma cortou tudo.”
A pressão de parte da bancada teria motivado a saída
da jornalista Helena Chagas da chefia da Secom, no início de 2014. Em
sua carta de demissão, Chagas alfinetou o PT e disse que manteve na
distribuição das verbas o critério da mídia técnica, adotado no governo
do ex-presidente Lula. “O critério da mídia técnica, que herdamos do
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que soubemos
preservar e aprimorar, propiciou a oportuna e equilibrada publicidade
governamental de tais ações públicas, trazendo ao cidadão informação
clara e objetiva a respeito de seus direitos e das oportunidades que lhe
eram impostas”, disse no documento. Dias depois afirmou não ser contra
“iniciativas do Estado para promover a pluralidade e a diversidade da
comunicação”, mas que isso, “quando implicar ajuda financeira a esses
veículos, deve ser feito de forma aberta, transparente e democrática”.
Condenou as tentativas de transformar a distribuição da publicidade em
“ações entre amigos”. “A discussão está aberta e é saudável. Só não é
saudável, e nem correto, à luz da atual legislação e dos novos tempos de
transparência na administração pública, transformar investimentos em
mídia em ações entre amigos, por maior que seja o chororô de quem acha
que levou pouco e quer mais.” No lugar dela, tomou posse na Secom Thomas
Traumann, que também pediria demissão do cargo em março de 2015, após o
vazamento de um documento reservado em que criticava a comunicação do
governo e defendia a destinação de mais recursos de publicidade para
blogs e sites pró-PT.
FONTE: COLUNA PAINEL DA FOLHA SP
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