domingo, 24 de junho de 2018

CADA JOVEM MORTO FAZ PAÍS PERDER R$ 550 MIL


Para cada jovem de 13 a 25 anos que morre assassinado, o Brasil perde cerca de R$ 550 mil. Em 20 anos, o país teve um prejuízo acumulado de mais de R$ 450 bilhões devido ao elevado número de homicídios.
A conclusão é de um estudo inédito da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal, obtido com exclusividade pela Folha. A pesquisa calculou quanto custou a criminalidade para o país no período de 1996 a 2015.
No caso dos homicídios, o valor se refere à perda da força produtiva, ou seja, quanto o Brasil deixa de ganhar com os frutos que o trabalho de cada vítima renderia. Para calcular o valor que o país desembolsou por causa da violência, o relatório mensurou os gastos do setor público e privado em seis áreas: segurança, seguros e danos materiais, custos judiciais, perda da capacidade produtiva, encarceramento e serviços médicos e terapêuticos.
Em 2015, a criminalidade custou 4,38% do PIB brasileiro, o que equivale a aproximadamente R$ 285 bilhões. De 1996 a 2015, os recursos destinados à segurança pública subiram expressivamente (162%, em valores corrigidos pela inflação). Contudo, o estudo defende que eles não foram aplicados de maneira eficiente, visto que o país não conteve o avanço do crime.
Segundo o estudo do governo, em razão da Lei do Teto de Gastos (que limita o aumento dos gastos federais à inflação do ano anterior) e da situação fiscal delicada da maioria dos estados, não é viável aumentar expressivamente o valor empregado na segurança.
Assim, o documento sugere uma revisão da política de seguridade brasileira, de modo a desenvolver estratégias baseadas em evidências empíricas ou seja, investir recursos em ações planejadas e com forte chance de retorno.
O pesquisador de violência da USP Leandro Piquet afirma que, apenas com mudanças na gestão da segurança pública, muito pode ser feito. "Hoje, na minha visão, o principal problema é a baixa produtividade dos recursos que temos.
Temos muito policial empregado e poucos na rua. Muito policial civil e pouca gente investigando".
Para Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé e colaborador do estudo, quando avaliadas, as políticas de segurança brasileira levam em conta critérios equivocados. "Em vez de medir a redução dos índices criminais, os policiais são recompensados pelo número de prisões e pela quantidade de crack que apreendem.
Em vez de serem recompensados por processar e prender criminosos violentos, promotores e juízes são recompensados pelo número de suspeitos encarcerados.
O foco está errado", diz. Para mudar o contexto atual, o relatório do governo sugere que a liberação de recursos seja condicionada à realização de avaliações consistentes sobre as ações.
NO NORDESTE, ARMAS COMUNS SÃO AS QUE MAIS MATAM
A pistola calibre 38, de origem nacional como a roubada do militar em 1º de abril, está entre as armas mais apreendidas no Nordeste, segundo levantamento inédito do Instituto Sou da Paz.
O estudo, obtido pelo GLOBO com exclusividade, mostra que as armas de cano curto (57% a 99%, a depender do estado pesquisado), com calibres permitidos (74% a 96%) e de fabricação nacional (76% a 95%) foram as mais recolhidas pelas forças de segurança nos nove estados do Nordeste no ano de 2015.
Em geral, são armas que começam no mercado legal, nas mãos de policiais e de agentes de segurança privada, e acabam no ilegal — por acidente ou má-fé. O resultado da pesquisa mostra que o combate ao crime e à violência, no Nordeste ou em todo o país, depende não apenas da repressão ao tráfico internacional de armas, que coloca no mercado nacional armas de grosso calibre, vindas do exterior e compradas por facções criminosas.
Depende, em grande medida, de evitar o desvio das armas menores. “O perfil encontrado contradiz o senso comum, de que a arma que mata é o fuzil que vem de fora do país, proveniente do tráfico internacional.
Não é esse tipo de arma que realmente ameaça a população”, diz Natália Pollachi, coordenadora de projetos do Sou da Paz. Compreender o tipo e a origem das armas que matam numa região recordista em assassinatos é essencial para direcionar políticas públicas de prevenção e controle.
Com o tema da segurança pública em evidência, não raro candidatos à Presidência prometem afrouxar as leis contra o armamento como forma de reduzir a insegurança. Recentemente, o pré-candidato do PSL, deputado Jair Bolsonaro, disse que “a arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da nossa liberdade”.
Em maio, numa feira de agricultura familiar no entorno de Brasília, Bolsonaro prometeu distribuir fuzis para cada produtor rural. Um dia depois, o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, admitiu facilitar o porte de arma para a população das áreas rurais, caso seja eleito.
A coleta de dados da pesquisa junto aos nove estados nordestinos durou seis meses e foi obtida por meio da Lei de Acesso à Informação. O Instituto Sou da Paz reuniu dados de 14.404 armas de fogo das 28.637 apreendidas em 2015. Alagoas e Ceará foram os destaques positivos no que diz respeito à qualidade das informações. Bahia, Pernambuco e Sergipe foram o lado negativo: não forneceram nenhum dado à pesquisa.


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