quinta-feira, 29 de junho de 2017

A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO – PARTE 4

Por: Ilo Jorge de Souza Pereira
Especialista em Gestão Pública e Política.
UM POUCO SOBRE AS ESTATÍSTICAS DE TRÂNSITO  

A Convenção sobre Trânsito Viário, celebrada em Viena em novembro de 1968, entrou em vigor para o Brasil em outubro de 1981.

   O sistema de trânsito ocupa um papel de destaque sob o aspecto social e econômico, na medida em que envolve, no dia a dia, praticamente os cidadãos e cidadãs de todo o mundo, no exercício do seu direito de ir e vir, de se locomover livremente para satisfação de suas necessidades, em busca de seu bem estar e o da comunidade em que vive.

    Diversos são os meios de locomoção por via terrestre que envolvem diretamente o cidadão e o transporte de vários produtos em seu benefício.

   Tais dinâmicas, intensas e ininterruptas, caracterizam o trânsito em seus desdobramentos urbanos, regionais e nacionais, o qual se organiza em um sistema nacional que deve produzir resultados focados no cidadão.

   Essas dinâmicas geram inúmeros problemas, desafiando governos e toda a coletividade para a sua solução.

   Tais problemas traduzem-se, por exemplo, em elevadas taxas de ocorrência e de severidade de acidentes de trânsito, em congestionamentos e na degradação do am­biente urbano, influenciando negativamente a qualidade de vida da população.

    No estudo “Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Aglomerações Urbanas Brasileiras”, publicado em 2003, é citado que os acidentes são, no mundo, a principal causa de morte entre as pessoas de 16 a 24 anos.

   O custo total é estimado em mais 162 bilhões de dólares.

   Os dados europeus mostram ainda que o número de anos perdidos por acidentes de trânsito é menor apenas que aqueles perdidos por doenças cardíacas e vasculares e é maior do que os anos perdidos por causa do câncer.

   Uma em cada dez pessoas envolvidas em acidentes de trânsito apresenta sintomas psicotraumáticos mais ou menos severos, que permanecem por um longo tempo após o acidente.

   Nas áreas urbanas, os números são preocupantes.

   Sob a perspectiva social, estudos realizados nos países em desenvolvimento mostram que os pedestres, ciclistas e motociclistas representam 56% a 74% dos mortos no trânsito.

   Essa é a maior diferença com respeito aos países desenvolvidos, onde, de acordo com os dados do Banco Mundial, o percentual de mortes de pedestres em relação ao total de mortes no trânsito é significativamente menor (20% na Europa/EUA) do que o registrado na América Latina (60%), na África (45%), no Oriente Mé­dio (51%) e na Ásia (42%).

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, os países são diferentes em seus padrões de utilização das estradas e nos tipos de acidentes e sequelas, e também na realização de ações de prevenção e redução.

    Na maioria dos países desenvolvidos, os carros fazem a maior parte do tráfego nas estradas.

 Já nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, pedestres, motonetas, motocicletas são mais comuns.

   Nesses países o transporte público, tais como vans, mini-ônibus, ônibus e outros de duas ou três rodas são difundidos.

   Em alguns desses veículos, os passageiros permanecem em pé ou sentados em locais não designados ou apropriados em termos de segurança.
“Essas diferenças têm um importante impacto na ocorrência dos acidentes entre os diferentes tipos de usuários das estradas”.

   Em 2003, um estudo do Conselho Europeu de Segurança nas Estradas demonstrou que para cada quilômetro rodado nas estradas dos países da União Europeia, uma pessoa de bicicleta é oito vezes mais propensa a ser morta do que uma pessoa em um carro; um pedestre é nove vezes e um motociclista é vinte vezes mais propenso a ser morto.

    Mais uma vez, esses padrões são diferentes nos diversos países.
 A OMS aponta ainda que os idosos e as crianças são os mais frágeis no contexto do trânsito.

   Os primeiros por serem menos alertas e mais lentos.

   Os idosos em geral apresentam grande chance de se envolverem em acidentes sendo mais propensos à mortalidade ou a consequências mais graves.

   Outro aspecto ressaltado pela OMS é a rede formada pelas pessoas diretamente relacionadas – amigos, vizinhos, parentes, empregados, professores – às vítimas fatais e aos gravemente feridos em acidentes de trânsito – considerados vítimas primárias.

   Todos envolvidos na rede podem experimentar transtornos de saúde física, psicológica ou social de curta ou longa duração, todos podem ser afetados em maior ou menor grau.

    Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 100 milhões de famílias estão sofrendo com as mortes e sequelas irreversíveis de seus membros vítimas de acidentes de trânsito, recentemente ou no passado.

O TRÂNSITO NO BRASIL

    No Brasil, estima-se uma frota aproximada de 36 milhões de veículos – 70% dos quais se concentram nas Regiões Sul e Sudeste do país.

    A indústria automotiva brasileira é composta por empresas multinacionais e nacionais montadoras e de autopeças, sendo que a produção de automóveis corresponde a mais de 80% da produção.

 Não obstante esses dados, nas áreas urbanas – onde reside a imensa maioria da população – o percurso a pé somado ao uso do ônibus constituem as formas dominantes de deslocamento.

FROTA DE VEÍCULOS NO BRASIL

    Os índices de acidentes de trânsito têm se mostrado uma grave questão.

    A incompatibilidade entre o ambiente construído das cidades, o comportamento dos motoristas, o grande movimento de pedestres sob condições inseguras, faz o Brasil deter um dos mais altos índices de acidentes de trânsito em todo o mundo.

    A gravidade do problema se revela tanto no número absoluto de acidentes quanto nas taxas proporcionais à frota veicular e às populações consideradas.

   De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN, os acidentes no país entre 1961 e 2000, multiplicaram-se por 15, enquanto o número de mortes aumentou em 6 vezes.

    A taxa de óbitos por habitantes cresceu nas duas primeiras décadas do período em questão, apresentando tendência de queda nas duas últimas, assim como o índice de mortes por veículo.


   Não obstante tais quedas, os números mantêm-se preocupantes.

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