Em medida que abre espaço para a irresponsabilidade fiscal de
prefeitos, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que pode livrar da
punição municípios que passem do limite com gastos de pessoal.
O texto,
que foi votado nesta quarta-feira (5), segue para sanção presidencial. O
projeto altera a Lei de Responsabilidade Fiscal para acrescentar que os
municípios que tiverem queda de arrecadação de mais de 10% não podem
sofrer sanções caso ultrapassem o limite de gastos de 60% da receita com
servidores ativos e inativos.
A nova regra só vale se essa redução for causada por
queda de repasses do Fundo de Participação dos Municípios ou royalties e
participações especiais. Ou seja, por fatores alheios à qualidade da
administração do município. Hoje, caso ultrapasse o teto e não o
restabeleça em até oito meses, a cidade fica impedida de receber
transferências voluntárias, obter garantia e contratar operações de
crédito até regularizar a situação. Ficam proibidos ainda de reajustarem
salários de servidores e de realizarem novas contratações.
Votaram a
favor da proposta 300 deputados, sendo apenas 46 contrários. “Esse é o maior atentado já visto à responsabilidade
fiscal neste país”, afirmou a economista Ana Carla Abrão, ex-secretária
da Fazenda de Goiás e sócia da consultoria Oliver Wyman. “Significa que
não aprendemos nada nos últimos quatro anos de colapso”. Segundo ela,
na prática boa parte dos municípios já não cumprem o limite dos 60%. “O
que estamos fazendo é abrindo mais um buraco na LRF, já tão
desrespeitada ao longo dos seus 18 anos de vigência”.
O economista Raul Velloso, especializado em contas
públicas, avalia que se for sancionado pelo presidente da República,
Michel Temer, o projeto pode efetivamente estimular a irresponsabilidade
fiscal dos prefeitos. Ele pondera, entretanto, que em um cenário de
queda da arrecadação de impostos por causa da crise econômica recente, a
regra da LRF é inexequível, até porque o grande problema dos gastos com
pessoal é com os servidores aposentados, e não com os ativos.
“Quando a
receita desaba, por conta da maior recessão da nossa história, a razão
entre pessoal e receita vai subir e ultrapassar os limites. Esse tipo de
regra foi feita para épocas de paz, de normalidade. Não há nada que os
municípios possam fazer hoje para resolver a recessão brasileira ou o
peso das aposentadorias.”
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