O ano 2012 terminou e numa reflexão direta, objetiva, crua e,
principalmente, sem apegos, concluímos que a mobilidade parou em
Pernambuco. Está tudo estagnado, de fato. Todos os projetos
desenvolvidos ou prometidos na segunda gestão do governo Eduardo Campos
não saíram do papel, enfrentam pendências ou, no máximo, são tocados a
passos muito lentos, colocando em dúvida sua conclusão dentro dos prazos
prometidos. O excelente desempenho do primeiro governo Eduardo Campos
se perdeu nesse segundo mandato.
Pelo menos até agora. Se na primeira
gestão ele conseguiu imprimir a marca da mobilidade, conquistando
importantes méritos, como a ampliação do Sistema Estrutural Integrado
(SEI) – fez em quatro anos o que outros governos não conseguiram fazer
em 20 ao construir seis novos TIs - e viabilizando importantes projetos
para a Copa do Mundo, tudo parou em 2012. Confira abaixo projeto por
projeto e a situação atual de cada um:
LICITAÇÃO DAS LINHAS DE ÔNIBUS DA RMR
Numa coletiva comandada pessoalmente pelo governador foi anunciado o
início do processo de licitação das 385 linhas de ônibus em operação na
Região Metropolitana do Recife, um momento histórico para o sistema de
transporte. A forma de fazer a concorrência, como as linhas seriam
divididas e as exigências para o futuro modelo foram apresentadas,
inclusive com a garantia de que o serviço de ônibus sofreria um salto de
qualidade, sem novos custos para os passageiros. Mas nada aconteceu. A
primeira promessa foi feita em abril de 2012 e desde então a Secretaria
das Cidades e o Grande Recife Consórcio de Transporte só desconversam
quando a licitação é cobrada.
SISTEMA DE INFORMAÇÕES DOS ÔNIBUS
Em março deste ano o governo do Estado lançou o Sistema Inteligente
de Monitoramento da Operação (Simop) com a promessa de que os
passageiros passariam a receber informações, em tempo real, sobre o
tempo de viagem, a velocidade e o horário de chegada dos coletivos. Tudo
via SMS e por paineis de LCD instalados nos terminais integrados. A
previsão era de que seriam geradas informações para os usuários que
estão nos TIs ou em uma das 6.238 paradas localizadas na RMR. Os
horários de chegada e partida dos coletivos seriam anunciados nos
painéis de LCD instalados nos terminais. Mas depois de 20 dias de
funcionamento, com várias falhas, o serviço foi cancelado pessoalmente
pelo governador e até hoje o Grande Recife Consórcio trabalha para
relançar o edital de licitação.
VIADUTOS DA AVENIDA AGAMENON MAGALHÃES
O projeto de mobilidade mais polêmico do governo Eduardo Campos está
parado. O Estado se posicionou convicto de que deveria construir quatro
viadutos transversais à Avenida Agamenon Magalhães sob o argumento de
que, só com eles, teria como viabilizar a implantação de um trecho do
Corredor Norte-Sul, uma via expressa que será operada por veículos BRTs
(Bus Rapid Transit).
Mas a proposta teve forte reação da sociedade e,
com o tempo e as eleições municipais, o Estado foi esquecendo o assunto.
Nos bastidores sabe-se que o projeto não é consenso internamente no
governo. Um grupo técnico foi convidado para apontar vantagens e
desvantagens da ideia e, como era de se esperar, ficou contra a
proposta. O Estado foi obrigado pelo MPPE a realizar estudos de impacto,
mas desde então evita o assunto.
Dos seis terminais integrados do SEI construídos por Eduardo Campos,
três estão prontos há pelo menos quatro meses, sem funcionar: os TIs de
Cajueiro Seco e Tancredo Neves, integrados com a Linha Sul do metrô, e o
TI de Xambá, às margens da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda. As
duas primeiras unidades, segundo o próprio governador, esperam a chegada
de novas composições do metrô para entrarem em operação. O TI Xambá
estaria dependendo de ajustes no equivocado corredor da Presidente
Kennedy, via que foi transformada em corredor de ônibus pelo Estado e a
Prefeitura de Olinda, mas que é repleta de erros de planejamento e
execução.
O resultado é que os três TIs que deveriam estar atendendo
mais de cem mil passageiros, ampliando as opções de transporte e
agilizando o deslocamento dessas pessoas, estão prontos e fechados.
Somente agora, no fim do ano, o Grande Recife Consórcio de Transporte
veio afirmar que há uma expectativa de que o TI de Cajueiro Seco entre
em operação entre janeiro e fevereiro de 2013, quando a CBTU planeja
iniciar a operação do primeiro de 15 novos trens adquiridos para o
sistema metroviário.
NAVEGABILIDADE DO RIO CAPIBARIBE – RIOS DA GENTE
Pensado há décadas, mas sempre visto como utopia por aqui, o Projeto
Rios da Gente, que prevê a transformação do Rio Capibaribe em rota de
transporte fluvial, também não avançou. Foi lançado pelo governo, mas
gerou polêmica e, principalmente, foi questionado pelo MPPE diante da
ausência de estudos de impacto ambiental. Por coincidência, depois que o
MPPE exigiu a realização de EIA/RIMA, o comando da CPRH foi mudado. A
agência tinha fornecido uma simples autorização para a dragagem do Rio
Capibaribe, o que foi questionado pelo MPPE. Por enquanto, o projeto
está parado. A proposta era de que 13,4 quilômetros do Capibaribe se
tornassem navegáveis, inicialmente com duas rotas, transportando 335 mil
passageiros, ao custo de R$ 289 milhões.
De fato, são os dois únicos projetos do governo do Estado que estão
andando. A passos lentos, mas andando. O Corredor Norte-Sul terá, quando
totalmente pronto, 45 quilômetros de extensão, ligando os extremos da
Região Metropolitana do Recife – Igarassu a Jaboatão dos Guararapes. Na
etapa que está sendo executada, irá apenas de Igarassu até o Terminal
Integrado de Joana Bezerra. Já o Leste-Oeste ligará o Derby ao município
de Camaragibe e é essencial para a Copa do Mundo de 2014. As obras
estão sendo tocadas pelo governo, mas num ritmo lento . O Norte-Sul é o
mais avançado, com a execução de viadutos. Já o Leste-Oeste repassa a
impressão de que não ficará pronto a tempo dos jogos mundiais. Os dois
serão operados por BRTs.
CORREDOR DA BR-101
O corredor da BR-101 ainda não tem sequer projeto executivo e depende
da aprovação do Dnit porque a sua construção foi atrelada ao projeto de
restauração do chamado contorno urbano que a rodovia federal faz do
Grande Recife. A relação entre os dois projetos foi socilitada pelo
governo do Estado para aproveitar a decisão da União de restaurar o
trecho da BR. Mas nos bastidores comenta-se que o Dnit está resistindo
para liberar o projeto porque quer esperar a construção do Arco
Metropolitano, um novo corredor rodoviário que ligaria o Norte ao Sul do
Grande Recife pela região Oeste. O Dnit estaria segurando a proposta do
corredor na BR-101 temendo os engarrafamentos, já tão frenquentes na
rodovia.
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