Estudo aponta que, nos últimos 21 anos, país registrou 22 ataques cometidos por estudantes ou ex-estudantes; casos cresceram nos últimos meses
Nos
últimos 21 anos, o Brasil registrou 22 ataques, em 23 escolas, cometidos por
estudantes ou ex-estudantes entre dez e 25 anos. Somente do segundo semestre do
ano passado até agora, foram nove atentados, que resultaram em sete mortes.
Nesta segunda-feira (27), a estatística aumentou com mais um caso de violência, desta vez na
EE Thomázia Montoro (SP), que deixou uma professora
morta.
Os
números fazem parte de um estudo, em fase de conclusão, realizado pela
professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) Telma Vinha, coordenadora do Grupo Ética,
Diversidade e Democracia na Escola Pública, do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade,
e por Cleo Garcia, advogada e mestranda na Faculdade de Educação da Unicamp,
ambas integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral –
Unicamp/Unesp (Gepem).
Conforme
Telma, o levantamento exclui casos que tiveram o planejamento frustrado – e, por isso, impedidos –, aqueles realizados por adultos
e os não planejados, ocorridos no momento de uma briga. “Só na semana passada
foram três casos desbaratados, o que nos mostra um cenário desafiador”, avalia.
Os dados
revelam ainda que, dos ataques registrados, 19 ocorreram em escolas públicas
(uma cívico-militar) e quatro, em escolas particulares. Para Telma, isso
comprova que esse tipo de violência pode acontecer em qualquer lugar. E,
segundo ela, vários fatores levam a crer que, infelizmente, ainda vão acontecer
de fato.
Extremismo e ataques em escolas
Ao longo dos
anos, os fatores que levam crianças e jovens a realizar esse tipo de ação
mudaram. Se antes a principal motivação era o bullying, hoje, explica Telma,
além de algum sofrimento vivido pelo estudante, os casos se relacionam ao
consumo de cultura extremista. E o pior, a sociedade vive um momento em que se
encoraja, direta ou indiretamente, atos agressivos e de violência.
“Muitos viveram momentos ruins na escola e acabam tendo ligação com esses grupos extremistas que fomentam racismo, xenofobia, enfim, o discurso de ódio. E, se antes esses grupos estavam na deep web [zona da internet que não pode ser detectada facilmente pelos tradicionais motores de busca e tem pouca ou nenhuma fiscalização], hoje eles estão nas redes sociais. Muitos são cooptados nas plataformas de jogos online”, detalha a professora. E, nesses ambientes, crianças e jovens aprendem como e são incentivados a realizar ataques.
Os
papéis da escola e da sociedade
Telma
frisa que a escola não é a única responsável, mas precisa trabalhar essas
temáticas e abrir um canal de escuta para apoiar crianças e adolescentes.
“Espaços de mediação de conflitos e
rodas de conversa são importantes.” Porém, mais do que isso, a especialista
afirma que é preciso haver uma responsabilização coletiva – a união entre escola e famílias, mas principalmente uma
participação dos governos com políticas públicas.
“E quando
falamos de política pública, não estamos falando de policiais dentro da escola,
mas de programas escolares e também de assistência social e de saúde mental para
apoiar os estudantes. De uma forma mais ampla, também estamos falando de uma
política de controle de armas, por exemplo, já que muitos atentados foram com
arma de fogo. Não se pode levar para o individual o que é responsabilidade de
todos.”
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